Gostava de partilhar convosco
situações que experienciei aquando das minhas passagens por algumas instituições para
idosos.
O objectivo é alertar todos
os que têm ou possam vir a ter familiares nestas instituições e até mesmo para
nós que, ao caminhar para a velhice, não sabemos se um dia iremos necessitar
desses serviços.
As visitas que os familiares
fazem aos seus idosos intitucionalizados não permitem que estes se apercebam de
situações menos correctas.
Quando os idosos fazem
alguma queixa (o que é raro pois têm medo de represálias) normalmente é dito às
famílias que estas pessoas têm mau feitio, estão sempre a reclamar ou estão
confusas e dementes.
Infelizmente nessas instituições
são admitidas pessoas que, por não conseguirem outro emprego aceitam trabalhar
nelas, contrariadas, sem formação (vão aprendendo com as colegas), sem educação
e algumas até menos honestas.
Por sua vez as Direções
também não têm a preocupação de fazer uma seleção cuidada, aceitando quem
aparece. E para estas, que muitas vezes também não têm formação nem perfil para
o lugar que ocupam, o importante é que os cuidados básicos sejam prestados. Ou
estão tão ocupadas com a burocracia que acabam por não ter tempo para
supervisionar os serviços.
Assim, eis algumas
situações:
-
A Senhora Maria uma manhã depois de ter sido lavada e vestida já na sala de refeição para tomar o pequeno almoço repara
que não tem o fio de ouro com uma medalha do falecido marido de que nunca se
separava. Dado o alerta à Directora técnica, todo o lar é revistado a familia
da Sra. é avisada e as funcionárias são interrogadas. Chegam á conclusão de que
quem vestiu a Sra. foram as funcionárias do turno da noite que já tinham saído.
Estas, foram também interrogadas quando voltaram ao trabalho mas claro que não
sabiam de nada.
-
O Senhor José queixa-se que lhe desapareceu uma camisa nova que o filho lhe
tinha oferecido. Usou-a uma vez pelo Natal, pô-la para lavar e nunca mais a viu.
A
funcionária da lavandaria não sabe de nada e as colegas respondem que o Senhor
está sempre a inventar coisas.
-
A Senhora Alice diz ter ficado sem uma camisola de lã e que as que restam são
mal tratadas na lavandaria pois cada vez estão mais encolhidas e assim qualquer
dia não tem que vestir pois não pode ir às compras.
Resposta
da lavandaria: essa Sra. cada vez está mais taralhouca, já nem sabe quantas
camisolas tem.
-
De manhã após o banho a Senhora Fátima diz que não quer a roupa que lhe estão a
vestir. Resposta da funcionária: veste sim, agora não há tempo para ir buscar
outra.
-
A Senhora Cristina após o almoço pede um cafézinho. Decisão da funcionária que
serve os almoços já a arrumar o refeitório: está velha, não precisa de café, só
lhe faz mal.
-
Passa uma funcionária pela sala onde o Senhor Lourenço está sentado e este pede
que o ajude a ir à casa de banho. Resposta: agora não é hora de ir à casa de banho quando
as colegas do próximo turno chegarem levam-no.
-
A Senhora Teresa foi encontrada caída junto à cama toda gelada pelas
funcionárias que entram no lar às 8 da manhã. A colega de quarto muito aflita
diz já ter pedido ajuda mas ninguém acudiu.
-
A Senhora Deolinda nunca come a fruta do almoço para guardar para a funcionária
de limpeza porque sabe se não o fizer o quarto não é limpo em condições.
Com certeza nenhum de nós
gostava de estar no lugar destas pessoas.
Assim é urgente uma mudança
ideológica em relação ao envelhecimento nos vários sectores sociais, sobretudo
nos que diretamente lidam com os mais velhos.
A sociedade ainda é muito
idadista, persiste a imagem negativa de que os idosos são incapazes,
dependentes e doentes e que basta lavar, vestir e alimentar. Sim, é necessário,
mas com educação, carinho e respeito, mas mais importante ainda é preciso escutar
e respeitar a sua vontade e as suas decisões.
Todos nós temos um papel
fundamental na mudança, na educação e formação. Devemos estar alerta e ser vigilantes
para que não continuem a tratar-se os seres humanos mais velhos (que merecem
todo o nosso respeito) como se fossem acéfalos.
“Não faças
aos outros o que não queres que te façam a ti.”
Provérbio Popular
PS:
Todos os nomes mencionados são fictícios.
Paula
Arsénio
2º
ano Gerontologia Social