Violência contra os idosos de Maria José Ferros Hespanha
O aumento da esperança de vida tem vindo a criar situações em que os filhos e os outros familiares directos dos grandes idosos, também já são idosos, muitas vezes também estes já estão a precisar de apoio e não estão em condições de cuidar de outras pessoas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) teme que o aumento do número de idosos no mundo agrave as situações de violência relacionadas principalmente com a ruptura de laços tradicionais entre gerações e com o enfraquecimento dos sistemas de protecção social.
Prevê-se que o número de pessoas com mais de 60 anos duplique até 2025, passando de 542 milhões em 1995 para 1 200 milhões nessa data, dos quais 850 milhões em países em desenvolvimento onde a preocupação fundamental é com a força trabalho activa e não com a força de trabalho já consumida, como é o caso dos idosos.
Segundo a OMS, apenas 30% dos idosos do mundo inteiro estão actualmente a receber pensões de reforma ou subsídios de velhice e invalidez, o que torna muito precárias as suas condições de existência e os expõe a riscos acrescidos de violência; uma violência que tanto pode ser exercida em ambiente familiar como institucional ou social.
A violência na família pode ter diversas causas e assumir um carácter mais ou menos explícito. Assim, ela pode ser motivada pela apropriação, não desejada, dos bens do idoso pelos seus familiares, levando a uma perda de autonomia e de poder do idoso; pela desresponsabilização dos familiares pelos cuidados de sobrevivência do idoso, deixando este abandonado; ou pela reversão das funções de autoridade dentro da família, passando o idoso a ser comandado por alguém de uma geração mais nova a quem terá de obedecer. Trata-se, em geral, de manifestações de uma violência mais simbólica e psicológica do que física, mas nem por isso menos marcante e efectiva.
Nas instituições a violência torna-se, muitas vezes, mais aparente devido ao maior distanciamento afectivo, à impessoalidade dos cuidados e a um regime disciplinar demasiado apertado e rígido. A situação agrava-se sempre que as instituições sofrem de falta de recursos – o que parece ser a regra -, e não conseguem satisfazer as necessidades dos idosos que elas acolhem. O reflexo da falta de recursos evidencia-se na impreparação e na falta de estímulo das pessoas que nelas prestam os cuidados aos idosos e na própria baixa qualidade dos serviços prestados. Daí a imagem negativa que muitos idosos têm das instituições e a violência que representa, nesses casos, a falta de alternativas à sua institucionalização.
De uma forma geral a sociedade tolera - e, por isso, torna-se cúmplice - do abandono, da falta de respeito e da degradação da condição social dos idosos, contribuindo assim para a difusão de uma cultura de violência (decerto camuflada) contra aqueles que não se integram nos novos padrões sociais de beleza, dinheiro e consumo. A comunicação social, designadamente a televisão tão apreciada pelos idosos, cumpre um papel fundamental no exacerbamento destes valores: nos anúncios raramente aparecem idosos, os bens de consumo anunciados raramente lhes são acessíveis e a toda a hora são enfatizados os valores da juventude.
A marginalização dos idosos e a violência simbólica que contra eles é exercida operam através de processos complexos e nem sempre visíveis. Um desses processos é de natureza comunicacional. Sabe-se como, com o passar dos anos, as pessoas vão adquirindo competências culturais, linguísticas, verbais e gestuais profundamente radicadas nos contextos sociais em que a sua vida se desenrola — família, trabalho, comunidade, lazer — e assumindo diferentes modos de se exprimirem. Ignorar estes factos ou exigir que os idosos se comportem e comuniquem de acordo com os modelos actualizados é uma forma de exercício de violência simbólica, que muitas vezes dificulta as relações inter-geracionais e conduz à exclusão dos idosos da vida familiar e social.
Perante um idoso, é forçoso ter sempre presente que se trata de uma pessoa diminuída nas suas capacidades de reacção e adaptação ao meio e às agressões da vida: as suas reacções são mais lentas e os reequilíbrios do organismo precisam de mais tempo para se recuperarem, ao mesmo tempo que se começam a desvanecer os ideais de juventude, vive-se o dia a dia com desânimo e deixa-se instalar facilmente a rotina.
O processo natural do envelhecimento também favorece a marginalização, mas é importante reconhecer que não foi sempre assim. No passado, o envelhecimento era valorizado pela sabedoria de vida que traz associada. Em geral, os idosos convivem com uma sensação desconfortável de “perda” e de “luto” numa sucessão demasiado rápida, que significa também a proximidade do seu próprio fim (Stevenson, 1989). Qualquer que seja, porém, a importância do fenómeno biológico do envelhecimento, o que importa acentuar aqui é que, na grande maioria dos casos, as diferenças notórias com que deparamos entre pessoas da mesma idade se devem sobretudo a factores externos, de ordem social, que foram actuando ao longo do tempo (como o regime alimentar, a natureza do trabalho, a instrução, a vida familiar e profissional, as condições de habitação). É assim que, na mesma população, alguns indivíduos têm o seu processo de envelhecimento acelerado, pelo sobreconsumo do seu próprio corpo, enquanto que outros puderam defender-se, preservando a sua saúde e, retardando, deste modo, o seu envelhecimento.
Como se referiu, esta desvalorização social dos idosos contrasta com a riqueza de conhecimentos e de experiências que eles foram acumulando ao longo da sua vida. Só que este conhecimento e esta experiência que se aprende fazendo e se transmite porque se sabe, dificilmente consegue competir com o conhecimento adquirido pela formação escolar quando se trata de dar resposta às necessidades profissionais e à procura do mercado de trabalho.
Os idosos são, em geral, bons contadores de histórias e gostam de falar do passado e de contar em pormenor as suas vivências; mesmo tendo um ritmo de vida mais lento, gostam de encontrar interlocutores atentos para partilhar as suas experiências. Contudo, nas sociedades industrializadas a maioria das pessoas em idade activa trabalham fora de casa e lutam para sobreviver, restando-lhes, assim, pouco tempo para se dedicarem aos idosos. Por isso, muitos idosos se queixam da solidão em que são deixados durante o dia e lamentam o pouco convívio que têm com os filhos e netos, não sendo raro dizerem ter tanto para ensinar e ninguém para lhes dar ouvidos.
O ritmo de vida e as regras de conduta impostas pelas sociedades contemporâneas representam um outro factor de marginalização e de exercício de violência simbólica sobre os idosos. Estes têm de respeitar as restrições e as proibições que permitem viver nestas sociedades. Esta nova disciplina tanto opera no seio das famílias, como nas instituições e na sociedade em geral deixando um rasto de constrangimentos e de violência bem visíveis. Não cremos ser fácil mudar essa tendência, inverter o sentido da evolução social. No entanto, o reconhecimento desta realidade torna-se muito importante para melhorar a auto-estima dos idosos. Assim, pequenas mudanças de atitude, como por exemplo substituir a expressão “não faça isto” por “passe a fazer antes isto”, ou “passe a fazer desta forma porque se vai sentir melhor" marcam a diferença. O mesmo com a tendência para se infantilizarem os idosos - por exemplo, utilizando muitos diminutivos na comunicação com eles – o que lhes diminui importância e os torna menos confiantes em si próprios.
Como estes existem muitos mais exemplos do que se pode fazer e do que se deve evitar. Retenhamos alguns.
Com o passar dos anos a capacidade auditiva dos idosos também diminui e se não estivermos atentos a isso eles facilmente são excluídos dos espaços de convívio, por isso aumentar um pouco o som da televisão e da radio, ter o cuidado de falar um pouco mais alto e de frente para a pessoa facultando-lhe além do som a mímica facial, pode funcionar como um meio de inclusão nos espaços de convívio. O mesmo se passa em relação à visão que também vai diminuindo, por isso os idosos devem estar em espaços bem iluminados e com uma relação de proximidade com as coisas que querem observar, quando isto não acontece podem desmotivar-se e começar a preferir estar em locais pouco iluminados onde pensam passar despercebidos.
O ritmo do sono também se modifica com o avançar dos anos, os idosos gostam de se deitar cedo e como não necessitam de dormir muitas horas também acordam muito cedo. É importante que as pessoas que convivem com eles não achem este facto estranho não estabeleçam comparação com as outras pessoas da casa e não se mostrem incomodados com isso, pelo contrário, devem entusiasmá-los para que se levantem quando já não querem dormir mais, comecem a sua higiene diária, tomem a primeira refeição da manhã e comecem a desempenhar algumas tarefas. Frequentemente os idosos se queixam de que passam muito tempo na cama acordados e a pensar na triste vida que têm.
Os idosos com o avançar da idade começam a apresentar queixas físicas, são em geral consumidores de vários medicamentos em simultâneo e precisam frequentemente de ser ajudados para não errarem a forma como os medicamentos devem ser administrados. Não podemos esquecer que eles eliminam as drogas com mais lentidão do que os adultos e estão muitas vezes sujeitos a intoxicações medicamentosas.
O que se pode retirar destas situações, é que deve ser dada maior atenção às condições e aos contextos em que se gere violência e assumir a defesa dos idosos, com base numa solidariedade inter-geracional consciente e sem reservas.
Rita Fernandes
O blog foi criado em 2010, por um grupo de alunos de Gerontologia Social da Escola Superior de Educação João De Deus com o propósito de divulgar e informar sobre várias temáticas inerentes ao envelhecimento. Mudou-se o nome do blog para ficar de acordo com a cadeira actualmente leccionada pelo Professor Doutor Joaquim Parra Marujo.
sexta-feira, 27 de maio de 2011
quinta-feira, 26 de maio de 2011
COMBATE AO ISOLAMENTO: A IMPORTÂNCIA DAS REDES FAMILIARES
As redes familiares são de uma importância fundamental no combate ao isolamento do indivíduo durante todo o seu ciclo de vida, assumindo um papel ainda mais relevante na última fase. À medida que vamos envelhecendo ficamos tendencialmente mais frágeis e vulneráveis. O sentimento de solidão está sobretudo ligado à falta de objectivos. Os objectivos são a base, não apenas para a satisfação de vida, mas para a manutenção do sentido para a vida.
Segundo Pais (2007) a solidão sente-se porque existe a necessidade do outro. A perda dos entes queridos, real ou por ruptura de relações, pode provocar não só sentimentos de solidão como perda de sentido para a vida.
Receber suporte familiar e social é considerado o melhor indicador de bem-estar global e qualidade de vida. Bem-estar e qualidade de vida são duas dimensões interdependentes, considerando-se que o conceito de qualidade de vida, para além de abranger o bem-estar pessoal, engloba também aspectos mais concretos e objectivos tais como os biomédicos, sociais e espirituais (saúde, condições ambientais e económicas, lazer, espiritualidade…).
As redes familiares são fundamentais para a qualidade de vida da pessoa idosa. Tomando como referência o meu contexto profissional (trabalho numa residência /centro de dia de idosos) constato que a saúde e as relações afectivas constituem os aspectos mais determinantes para a sua satisfação e para o seu bem-estar. Transcrevo alguns testemunhos de idosos que frequentam o centro de dia e também alguns residentes de lar que são bem elucidativos dessa importância:
“Se eu pudesse pedir um desejo…”
- Pedia saúde para mim, para filhos e netos e também para as minhas irmãs.
- Pedia bem-estar no mundo, confiar em Deus e ter os filhos com saúde.
- Pedia uma velhice feliz com os filhos ao pé de mim.
- Pedia para ter a companhia dos filhos.
- Pedia para viver muito tempo acompanhado e que o meu filho e a família se desse bem comigo.
“Para mim isolamento/solidão é…”
- Solidão é estar sozinho e não ter quem nos acuda mas quando os filhos estão em casa e não nos falam essa é a pior solidão
- Solidão é triste mas não sinto muito porque a minha filha fala comigo todos os dias e ela e as netas vem ao fim de semana. Sinto mais solidão à noite.
- É morrer à porta fechada e não ter quem nos ajude. É triste!
- É viver sozinho sem ter o carinho dos filhos. O que me vale é a televisão e os amigos.
- Sinto-me muito sozinho. Se não fosse a televisão morria de solidão… Sem a televisão há muito pensamento…
“No combate à solidão a família pode ajudar…”:
- O mais importante é conversar no dia-a-dia e socorrer quando estou doente.
- Telefonar no dia dos anos e noutras datas importantes…
- É importante quando a família dá um incentivo, um conforto.
- É importante quando a família se preocupa connosco.
- Passar para dar um beijinho. Sinto-me feliz quando o meu filho vem para me dar um beijinho…
Teresa Castanheira
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações 2012
Este artigo foi tirado do site www.ajudas.com
"A União Europeia encontra-se em processo de envelhecimento populacional significativo. Desde 1960, a esperança de vida aumentou em oito anos e as projecções demográficas esperam um aumento de cinco anos mais durante os próximos quarenta anos. A partir de 2012 a população europeia em idade de trabalhar começará a diminuir, enquanto que, a população com mais de 60 anos continuará a aumentar em cerca de dois milhões de pessoas ao ano, segundo um cenário que supõe altos níveis de imigração continuados e um ligeiro aumento da fertilidade.
O envelhecimento da população apresenta tanto reptos como oportunidades. Pode aumentar a pressão sobre os pressupostos públicos e os sistemas de pensões, assim como, a dotação do pessoal dos serviços sociais e atenção aos mais velhos.
Este ponto de vista, sem dúvida, deixa de lado a importante contribuição real e potencial que as pessoas mais velhas - e as coortes do baby boom, em particular, - podem aportar á sociedade. Uma oportunidade chave para fazer frente ao repto do envelhecimento demográfico, e para a preservação da solidariedade intergeracional, que consiste em assegurar que as coortes do baby boom possam permanecer mais tempo no mercado laboral, sigam sendo participantes activos na sociedade e mantenham-se saudáveis e autónomos o maior tempo possível.
Os principais reptos
Fazer frente á reforma antecipada: alentar os trabalhadores a permanecer no emprego requere a melhoria das condições de trabalho e a sua adaptação às condições de saúde e às necessidades dos trabalhadores de maior idade, a atualização das suas habilidades, proporcionando um melhor acesso á formação permanente, e a revisão dos sistemas fiscais e de prestações para garantir que são incentivos efectivos para trabalhar mais tempo.
Lutar contra a exclusão social das pessoas mais velhas mediante a participação ativa: o envelhecimento ativo é também uma ferramenta eficaz para lutar contra a pobreza e o isolamento na velhice. Um número considerável de pessoas de idade avançada experimenta a velhice como uma etapa de marginalização. Enquanto que, melhores oportunidades de emprego para as pessoas mais velhas poderiam ajudar a abordar algumas das causas da pobreza entre este grupo etário, a participação ativa em atividades de voluntariado poderia reduzir o isolamento das pessoas mais velhas. O enorme potencial que as pessoas mais velhas representam para a sociedade como voluntários ou cuidadores poderia mobilizar-se melhor mediante a eliminação dos obstáculos existentes para pagar o trabalho, proporcionando o marco adequado e adaptando-se às suas necessidades.
A luta contra as doenças em idades avançadas: melhorar a saúde da população, é vital para o indivíduo e para o bem-estar da sociedade. Se bem que contribui directamente para a qualidade de vida individual, uma população saudável é também crítica para o desenvolvimento económico, o crescimento e a prosperidade na Europa, permitindo às pessoas permanecer ativas socialmente durante mais tempo e reduzindo a tensão nos sistemas de saúde e assistência social.
A necessidade de um Ano Europeu
A Comissão destacou na sua Comunicação sobre a "Europa 2020 - Uma estratégia para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo" a importância de promover um envelhecimento saudável e ativo da população para ajudar, entre outras coisas, a alcançar um nível elevado de emprego, investir nas competências e reduzir a pobreza.
O envelhecimento ativo necessita do apoio de uma ampla gama de políticas em todos os níveis governamentais. A UE desempenha o seu papel em âmbitos políticos como o emprego, a saúde pública, a sociedade da informação, o transporte e a proteção social, mas nas respostas políticas principais o envelhecimento ativo geralmente fica sobre a responsabilidade dos Estados membros, que estão a intensificar os seus esforços para mobilizar o potencial das pessoas mais velhas.
O objetivo geral
O Ano Europeu do Envelhecimento Ativo está desenhado para servir como marco para a sensibilização, para identificar e difundir boas práticas e, o mais importante, para animar os responsáveis do desenvolvimento de políticas e para os agentes interessados em facilitar o envelhecimento ativo. O objetivo é convidar estes atores a comprometerem-se com medidas concretas e metas na primeira metade do ano 2011 para que os lucros tangíveis se possam apresentar durante o Ano Europeu em 2012.
A Comissão pôs em marcha um sitio web para o Ano Europeu que recolhe e apresenta informação sobre os planos de medidas e iniciativas que se hajam implementado em todos os níveis em toda a UE no contexto do Ano Europeu.
O Ano europeu de 2012 dentro dos atuais programas da União
A União Europeia já adoptou várias iniciativas para promover o envelhecimento ativo (Estratégia de emprego, o FSE, PROGRESS, o programa Grundtvig para a educação de adultos, programa de saúde pública, plano de ação europeu ‘Envelhecer melhor na sociedade da informação’).
Estas atividades devem ser beneficiadas de uma maior visibilidade no contexto do Ano Europeu. Muitas das políticas e instrumentos existentes podem estar orientadas face aos objetivos do Ano Europeu para que os projetos com uma dimensão do envelhecimento ativo possam conseguir o apoio financeiro da UE (investigação, conferências, seminários, intercâmbio de experiências).
Mais informação na página web do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo."
(Traduzido por: Carina Oliveira (colaboradora permanente do ajudas.com)
Yola Leite
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