domingo, 13 de maio de 2012

Os bastidores de algumas instituições

Gostava de partilhar convosco situações que experienciei aquando das minhas  passagens por algumas instituições para idosos.
O objectivo é alertar todos os que têm ou possam vir a ter familiares nestas instituições e até mesmo para nós que, ao caminhar para a velhice, não sabemos se um dia iremos necessitar desses serviços.
As visitas que os familiares fazem aos seus idosos intitucionalizados não permitem que estes se apercebam de situações menos correctas.
Quando os idosos fazem alguma queixa (o que é raro pois têm medo de represálias) normalmente é dito às famílias que estas pessoas têm mau feitio, estão sempre a reclamar ou estão confusas e dementes.  
Infelizmente nessas instituições são admitidas pessoas que, por não conseguirem outro emprego aceitam trabalhar nelas, contrariadas, sem formação (vão aprendendo com as colegas), sem educação e algumas até menos honestas.
Por sua vez as Direções também não têm a preocupação de fazer uma seleção cuidada, aceitando quem aparece. E para estas, que muitas vezes também não têm formação nem perfil para o lugar que ocupam, o importante é que os cuidados básicos sejam prestados. Ou estão tão ocupadas com a burocracia que acabam por não ter tempo para supervisionar os serviços.
Assim, eis algumas situações:
- A Senhora Maria uma manhã depois de ter sido lavada e vestida já na sala  de refeição para tomar o pequeno almoço repara que não tem o fio de ouro com uma medalha do falecido marido de que nunca se separava. Dado o alerta à Directora técnica, todo o lar é revistado a familia da Sra. é avisada e as funcionárias são interrogadas. Chegam á conclusão de que quem vestiu a Sra. foram as funcionárias do turno da noite que já tinham saído. Estas, foram também interrogadas quando voltaram ao trabalho mas claro que não sabiam de nada.
- O Senhor José queixa-se que lhe desapareceu uma camisa nova que o filho lhe tinha oferecido. Usou-a uma vez pelo Natal, pô-la para lavar e nunca mais a viu.
A funcionária da lavandaria não sabe de nada e as colegas respondem que o Senhor está sempre a inventar coisas.
- A Senhora Alice diz ter ficado sem uma camisola de lã e que as que restam são mal tratadas na lavandaria pois cada vez estão mais encolhidas e assim qualquer dia não tem que vestir pois não pode ir às compras.
Resposta da lavandaria: essa Sra. cada vez está mais taralhouca, já nem sabe quantas camisolas tem.
- De manhã após o banho a Senhora Fátima diz que não quer a roupa que lhe estão a vestir. Resposta da funcionária: veste sim, agora não há tempo para ir buscar outra.
- A Senhora Cristina após o almoço pede um cafézinho. Decisão da funcionária que serve os almoços já a arrumar o refeitório: está velha, não precisa de café, só lhe faz mal.
- Passa uma funcionária pela sala onde o Senhor Lourenço está sentado e este pede que o ajude a ir à casa de banho. Resposta: agora não é hora de ir à casa de banho quando as colegas do próximo turno chegarem levam-no.
- A Senhora Teresa foi encontrada caída junto à cama toda gelada pelas funcionárias que entram no lar às 8 da manhã. A colega de quarto muito aflita diz já ter pedido ajuda mas ninguém acudiu. 
- A Senhora Deolinda nunca come a fruta do almoço para guardar para a funcionária de limpeza porque sabe se não o fizer o quarto não é limpo em condições.
Com certeza nenhum de nós gostava de estar no lugar destas pessoas.
Assim é urgente uma mudança ideológica em relação ao envelhecimento nos vários sectores sociais, sobretudo nos que diretamente lidam com os mais velhos.
A sociedade ainda é muito idadista, persiste a imagem negativa de que os idosos são incapazes, dependentes e doentes e que basta lavar, vestir e alimentar. Sim, é necessário, mas com educação, carinho e respeito, mas mais importante ainda é preciso escutar e respeitar a sua vontade e as suas decisões.  
Todos nós temos um papel fundamental na mudança, na educação e formação. Devemos estar alerta e ser vigilantes para que não continuem a tratar-se os seres humanos mais velhos (que merecem todo o nosso  respeito) como se fossem acéfalos.
“Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti.”
                                                                                       Provérbio Popular
PS: Todos os nomes mencionados são fictícios.
Paula Arsénio
2º ano Gerontologia Social

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